7.10.04

SEGURANÇA NO TRABALHO

SEGURANÇA NO TRABALHO – ASPECTOS ÉTICOS

Um dos temas que considero de maior importância nos trabalhos que se desenvolvem na área de iluminação de palco é o que diz respeito às questões de segurança, nos seus sentidos técnicos e acima de tudo nos seus sentidos éticos.
A meu ver, esses dois objetos de estudo são inseparáveis, posto que só é possível uma atitude ética para com a segurança das vidas humanas envolvidas nos processos de montagem, execução e apreciação de obras de arte, se levarmos em conta que os profissionais devem respeitar conscientemente as normas que definem tecnicamente esses processos.
As leis e normas estabelecidas funcionam tanto como suportes de procedimentos básicos que definem atitudes por parte dos profissionais e público, como também agente moderador dos processos, coibindo abusos que poderiam aumentar os riscos nos palcos.
A ética na segurança pode ser definida como “o respeito á vida humana através do respeito às normas que definem os processos de trabalhos”. Estamos falando acima de tudo em amor ao próximo e a si mesmo e não de outra coisa. Inferir aspectos éticos em conceitos técnicos sempre causa um pouco de espanto na maioria dos profissionais, mas como eu disse anteriormente, acredito que esses conceitos sejam indiscutivelmente inseparáveis. Um não pode existir sem o outro.
Durante a minha experiência profissional tenho deparado muitas vezes com o que chamo de “intransigência egoísta e oportunista” nas relações de profissionais que preferem, na maioria das vezes, afirmar que o mais importante é que “o show continue” sem levar em consideração os riscos envolvidos. Isso na minha opinião mostra uma “elegante” falta de sensibilidade para com os semelhantes e ao mesmo tempo um tipo de descomprometimento ético dos mais perigosos. A inobservância das leis e normas caracterizada muitas vezes sob o título de “urgência” nos processos de trabalho não leva em consideração a “vida” como sendo o patrimônio mais importante na natureza, muito acima mesmo do patrimônio cultural. Não é possível aceitar esse tipo de atitude de pessoas que se colocam muitas vezes como guardiãs e porta-vozes da cultura moderna.
Entendo que a atitude mais adequada a ser tomada pelos profissionais quando se vêem envolvidos em casos de desrespeito às normas de segurança é a de primeiramente alertar os responsáveis para os riscos e, em casos mais sérios, onde a “burrice e teimosia” persistirem, denunciar aos órgãos competentes as falhas observadas. Essa atitude tem na maioria das vezes um desfecho amargo para o denunciante, mas posso garantir que um “outro” desfecho pode ser muito mais amargo do que esse, pois, no momento em que um trágico acidente acontece todo mundo quer tirar o “corpo fora” e aí então acaba “sobrando” sempre para o lado “mais fraco” ou mais “irresponsável”. Fora isso, deve ser bastante triste carregar o peso de acontecimentos trágicos que poderiam ser evitados.
Sei o quanto é difícil fazer a escolha certa, não só para os profissionais de iluminação como para todos os outros que encaram problemas desse tipo. Nenhuma escolha que envolva vidas humanas é fácil, mas é assim que deve ser. São nesses momentos que podemos comprovar o nosso comprometimento com a vida e isso basta.

Texto enviado por Valmir Perez, Lighting Designer,
responsável Laboratório de Iluminação
DAC/IA - UNICAMP http://www.iar.unicamp.br/lab/luz

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