31.1.07

ENCONTRO DE ILUMINAÇÃO CÊNICA

A proximidade entre público e palestrantes marcou o Encontro de Iluminação Cênica realizado pelo núcleo RJ da ABrIC - Associação Brasileira deIluminação Cênica, nos dias 18 e 19 de dezembro, na Caixa Cultural, com apoio das empresas Be Light, Companhia da Luz, Novalite, Zuluz, Os 3Marketeiros e da Escola de Comunicação da UFRJ. Durante as palestras e mesas redondas foram abordados temas de fundamental importância para a melhoriadas condições técnicas, de organização e segurança dos profissionais de iluminação no Brasil. Falou-se também sobre passado e futuro da profissão, novas possibilidades de atuação e mercado de trabalho.

Organização de Montagem
O evento abriu com um depoimento do técnico de montagem Pablo Enriquez, sobre experiências e situações reais de trabalho ao longo de sua carreira, sua relação com produções e técnicos estrangeiros e da importância da figurado Diretor de Montagem, função que costuma não existir nas produções brasileiras e que acaba sendo a razão de boa parte dos desgastes excessivos e desnecessários de tempo e esforço físico na realização de um espetáculo."A maioria dos acidentes acontece quando a equipe já está exausta, normalmente à noite, porque não há uma organização prévia com relação à montagem. O próprio grupo de técnicos acaba tendo que se auto gerenciar edecidir as soluções na hora, o que demanda muito mais tempo que o necessário, quando tudo poderia ser feito com antecedência e a devida coordenação, se houvesse sempre um diretor de montagem nas produções" -afirmou.

Semelhanças e Diferenças entre os Mercados Nacionais
Luiz Nobre (Carioca), presidente da ABrIC; Milton B. Piedade (fundador eintegrante do Conselho de Comunicação da associação); Luciana Liege, iluminadora trabalhando atualmente na Caixa Cultural do Rio de Janeiro e Pablo Enriquez deram continuidade ao encontro, debatendo sobre assemelhanças e diferenças dos mercados nacionais, representando os estados doParaná, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, respectivamente

Carioca contou que, em Curitiba, a união das empresas, iluminadores e técnicos conseguiu, através de abaixo assinado, que o teatro do Colégio Bom Jesus fosse fechado para reformas estruturais. "Acidentes graves já tinham acontecido lá e precisávamos fazer alguma coisa para garantir a segurançados técnicos", comentou. Há uma forte ligação entre os donos de empresas de iluminação na cidade e um objetivo comum no sentido de promover melhor qualificação para os profissionais que já atuam no mercado e para quem está começando na profissão. "Tivemos reuniões com o sindicato - SATED - sobre a reformulação dos cachês e está marcada uma reunião também com a associaçãode produtores locais para discutirmos sobre vários assuntos de interesse da classe", Carioca acrescentou. No momento, o grupo de donos de empresas, juntamente com iluminadores e técnicos estão estudando junto ao Teatro Guaíra a possibilidade de serem realizados encontros mensais com iluminadores, cenógrafos, sonoplastas e produtores pelo interior do estado, para promover democratização de conhecimento e troca de informações.

Luciana Liege, falando sobre sua formação na Bahia, disse que "quem é bom consegue entrar no mercado rapidamente, mas os baixos cachês impedem que os profissionais mais bem qualificados continuem atuando na Bahia. Eles acabam migrando para São Paulo e Rio, em busca de melhores chances dedesenvolvimento".

Este problema de redução no valor das diárias, entretanto, mostrou-se comume insustentável em âmbito nacional, chegando já ao patamar de 30 reais em alguns locais. São raras as empresas que mantêm o patamar mínimo de diárias em torno dos 150 reais ou, pelo menos, na margem de 100 reais. Ao final do debate ficou claro que esta é uma situação que só poderá ser mudada através da união da classe de iluminadores e técnicos, como aconteceu na cidade de Curitiba.

Relação Contratual entre Técnicos e Empresas de Iluminação
A relação contratual entre técnicos e empresas de iluminação foi o tema abordado por Paulo Cesar Medeiros, iluminador e diretor da empresa Artlight; Ângela Blazo, produtora e Katia Barreto, iluminadora. Na empresa de PauloCesar, trabalha um pequeno número de técnicos contratados, normalmente, para serviços permanentes de manutenção e montagem e, a cada evento, são contratados mais profissionais em esquema freelance.

Participando do encontro, Vicente Vitale, diretor da Novalite e um dos apoiadores do encontro, declarou que sua empresa atua da mesma forma e que, para ele, será ótimo quando todos os técnicos e iluminadores forem legalmente e oficialmente registrados e puderem ser contratados como pessoa jurídica ou, pelo menos, como profissionais autônomos, como acontece em mercados de trabalho tradicionais. "Isso vai gerar uma situação mais estável para os técnicos e melhor organização contábil para as empresas" - defendeu.

Iluminação na Academia
Iluminação não se aprende só na prática e este conceito precisa, cada vezmais, ser difundido entre os profissionais de iluminação, para que o nível não só artístico, como técnico e social desta classe alcance o devido statuse reconhecimento. Esta foi a mensagem dos convidados Djalma Amaral -iluminador e professor substituto na UNIRIO - e Jose Henrique Moreira, professor na UFRJ. A academia - no sentido de instituição de ensino - é ondese tem a chance de pesquisar e desenvolver ferramentas e métodos que, aplicados à prática, contribuem para que a atividade desenvolva-se plenamente.

Documentação de Luz
O iluminador Cesar Ramires apresentou exemplos de planilhas de iluminação, com indicação de patches e cenas, destacando a necessidade deste tipo dedocumentação tanto para melhor operação de luz num espetáculo quanto para o registro de um trabalho que poderá servir de consulta e referência para outros profissionais ou gerações futuras. "É uma forma de se criar um registro histórico da iluminação criada para um espetáculo. Além disso, quanto mais detalhada a planilha, mais fácil e com menor possibilidade de erro será a operação da iluminação para um técnico que estará num teatro ou casa de espetáculos, na estrada, e que não teve contato com o espetáculo previamente" - defendeu.

Iluminação na Arquitetura
Peter Gasper, Maneco Quinderé e Milton Giglio proporcionaram um momento de descontração, falando sobre suas experiências e expondo imagens de trabalhos que têm realizado, descrevendo detalhes e conceitos. Milton Giglio apresentou fotos de antes e depois das obras concluídas, mostrando, também, imagens renderizadas que usa para apresentação de seus projetos aos clientes, para que eles possam ter uma idéia do que virá a ser o resultado proposto. Maneco trouxe fotos de residências e restaurantes, apresentando luminárias decorativas que têm criado com exclusividade para seus projetos, o que tem feito grande sucesso entre seus clientes. Peter Gasper apresentou um pouco da nova iluminação dos prédios e monumentos criados por Oscar Niemeyer e que compõe o centro político do país, em Brasília.

Iluminação e Cenário
"O iluminador vem ganhando mais destaque no processo de produção de um espetáculo e tem que estar preparado para isso". Esta foi a tônica da palestra do iluminador Rogério Wiltgen e a cenógrafa Lidia. Rogério enfatizou que, "antigamente, o iluminador era alguém que recebia ordens deiluminar algo já pronto. Hoje, existe diálogo entre cenógrafo, diretor e iluminador e, através desses diálogos - extremamente importantes enecessários - são tomadas decisões e escolhidas linhas de trabalho e estéticas".

Lídia apresentou várias fotos de trabalhos nos quais iluminação e cenografia tiveram total integração, e acrescentou: "A luz é como se fosse a alma do cenário. Por isso, o diálogo entre os profissionais é tão importante".

Painel ABrIC
O evento encerrou com um balanço sobre o Encontro, com ampla colaboração do público, que deixou suas impressões e sugestões. O Painel ABrIC teve MiltonB. Piedade, Luiz Nobre e Pablo Enriquez na mesa. A platéia mostrou-se totalmente à vontade e participativa, expondo suas opiniões, levantando, inclusive, a questão de que a Associação deve enfatizar sua abertura e abrangência a técnicos e não apenas a iluminadores, para que não seja interpretada como uma entidade elitista ou restrita. Os integrantes da mesa agradeceram pela crítica e Pablo Enriquez lembrou que sua presença ali era uma evidência de que a ABrIC é formada também por técnicos, além deprofissionais de outras áreas como cenógrafos, figurinistas, jornalistas e qualquer pessoa que atue no segmento ou, simplesmente, seja amante da iluminação.

Sobre a ABrIC
O Encontro de Iluminação Cênica do Rio de Janeiro foi realizado pelo núcleo carioca da ABrIC, que tem sede em São Paulo e núcleos regionais também na Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

A ABrIC foi fundada no dia 7 de setembro de 2005, durante o I Congresso Brasileiro de Iluminação Cênica, que reuniu mais de 200 profissionais, técnicos, artistas e empresários de onze estados brasileiros, em São Caetano do Sul. A Associação tem um caráter extremamente democrático, contando com o esforço voluntário de membros que participam de 22 grupos de trabalho para incluindo Criação de Acervo, Projeto Pedagógico, Publicações, Ciclo de Palestras, Cadastro Nacional de Casas de Espetáculos e Segurança.

Há uma plenária virtual na qual são trocadas informações de uso prático, além de debates sobre temas conceituais. Para inscrever-se, basta entrar nosite http://www.abric.org.br/. Maiores informações podem ser obtidas pelo e-mail info@abric.org.br ou pelo telefone 11 3289-3403.

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